Novamente amparados em passagem do livro "História da Colonização de Dois Irmãos", escrito pela Profª Clarice Maria Arandt, vamos transcrever as comemorações iniciais do Kerb.
Como já foi falado anteriormente, os náufragos do navio Cecília prometeram que se chegassem a salvo no Brasil, consagrariam o dia de sua chegada como feriado e oferecido ao santo do dia.
"... Esses imigrantes, chegando em solo gaúcho, na sua maioria foram destinados à colônia de Baumschneiss, mais tarde cognominada de São Miguel de Dois Irmãos (atual Dois Irmãos). Era 29 de setembro de 1829, dia do Arcanjo de São Miguel. Essa data passou a ser o "mito fundatório" de nossa cidade, festejado até os dias atuais e São Miguel passou a ser o nosso padroeiro.
O Kerb seria o início de uma tradição religiosa e social criada na "Baumschneiss" e difundida pelos imigrantes alemães nas demais colônias. Era e é uma festa muito alegre, com duração de três dias, fazendo parte das tradições teuto-riograndenses, não havendo similar em outras partes do mundo onde existia colonização germânica, nem mesmo na própria Alemanha, devido às características exclusivas.
Os festejos do Kerb de São Miguel
É uma autêntica festa popular, sendo o dia 29 de setembro feriado municipal. Pela manhã, ouvem-se os estampidos dos morteiros e rojões e são oficiados cultos e missa solene nas três comunidades religiosas. Após a saídas das suas igrejas, os fiéis são recepcionados com foguetório e uma bandinha típica que, com sua bela e contagiante música, conduz a "procissão" para o salão de baile, onde a dança de abertura é a tradicional quadrilha da POLONAISE (polonése).
Ao meio-dia, os dois-irmonenses recepcionam os seus familiares e visitantes com o seu tradicional almoço de Kerb, no qual não pode faltar a carne de porco e gado assados no forno, galinha, ensopado de miúdos, bucho no vinagre, massa feita em casa, arroz, salada de batatas, batata cozida, conservas de legumes e o indispensável "chucrute", como também a linguiça cozida e a cerveja. À tarde, continua-se com o conhecido café colonial dentro da tradição culinária germânica, na qual temos tortas, cucas, morcilha, linguiça, "schmier" e muitos outros quitutes.
À noite são realizados os bailes de Kerb.
Não há mais, nos salões, a rigor, os bailes de Kerb à moda antiga. Entretanto, alguns fatos folclóricos ainda permanecem vivos, em nome da tradição, tais como: a COROA DO KERB (KerwenKranz) pendurada no meio do salão de baile, geralmente ornada com verde, flores e fitas de papel crepom colorido, que se espalham por todo o salão. No centro dessa coroa, fica pendurada uma garrafa de cerveja (quem se atrever a retirá-la dali é obrigado a pagar um engradado de cervejas, pela proeza cometida). A BANDINHA TÍPICA, que tem por base uma série de instrumentos de sopro, entre os quais se incluem o clarinete, pistões, trombones, flautas e saxofones, foi recentemente aparelhada com instrumentos eletrônicos, proporcionando um novo colorido musical ao som bonito e tradicional das primeiras bandinhas. OS RITMOS FOLCLÓRICOS trazidos pelos imigrantes, como o chote, a polquinha, a marchinha, "Rütsch-Polka" (exatamente, sem tirar nem pôr, o nosso "Chote Carreirinho"), o "Hacken-Schottisch", a Polca Mazurka, o "Herr Schmidt", a Valsa e a Marcha-Polca.
O nosso Kerb, nos últimos anos, deixou mais o seio da família e ganhou as ruas, onde, durante três dias, são realizados festejos em logradouros públicos, ao som de várias bandinhas típicas e regado a muita cerveja."
("História da Colonização de Dois Irmãos", 1999, pág. 37-39)
Como vemos neste trecho final, o Kerb já havia mudado bastante ao longo dos anos, sendo levado às ruas para a comemoração, que é oque veremos no próximo post sobre as Comemorações do Kerb.
Até mais.